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Quem é Vladimir Putin? Nova biografia revela segredos do líder russo

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A 24 de fevereiro, quando a Rússia deu início à invasão da Ucrânia, comentaristas do mundo inteiro demonstraram perplexidade. Apesar de a região da Criméia ter sido anexada de forma semelhante oito anos antes, poucos imaginavam que Vladimir Putin teria coragem de desafiar a comunidade internacional de maneira tão afrontosa, ignorando todos os acordos e resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU).

A incapacidade de prever as ações do líder russo levanta uma questão essencial da geopolítica mundial, que o Ocidente ainda não conseguiu desvendar: afinal, quem é Vladimir Putin?

O novo livro da jornalista russa Masha Gessen é um bom ponto de partida para decifrar esse enigma. O Homem Sem Rosto – A Improvável Ascensão de Vladimir Putin narra como um oficial de baixa patente da KGB, sem nenhuma experiência em cargos públicos, conseguiu convencer o presidente Boris Yeltsin a torná-lo seu sucessor, herdando uma Rússia dividida e enfraquecida dez anos após a dissolução da União Soviética.

Vladimir Vladimirovitch Putin nasceu em Leningrado, em 1952, apenas oito anos após o cerco militar que os nazistas impuseram à cidade por 872 dias. Nesse período, morreram mais de um milhão de civis, vítimas dos bombardeios alemães, de fome ou simplesmente tentando fugir do local. Parte de sua família sobrevivera: o pai perdeu ambas as pernas; a mãe quase morreu de inanição e sofreu com a morte de dois filhos. Na escola, Putin era o típico valentão. De estatura baixa, vencia adversários maiores graças à destreza no Sambo, arte marcial soviética – mais tarde ele trocaria a modalidade pelo Judô.

Ainda criança, sonhava em se tornar um oficial da KGB, a polícia secreta da URSS. Seus amigos achavam isso estranho, pois, na época, os jovens geralmente queriam ser cosmonautas, devido ao sucesso do programa espacial do país. Aos 12 anos, ficou obcecado pelo romance O Escudo e a Espada, cujo protagonista era um agente secreto em ação na Alemanha. Tentou ingressar na KGB aos 16, mas foi informado de que era muito novo e que o caminho natural seria cursar a faculdade antes. Formou-se em Direito pela Universidade de Leningrado e, então, foi admitido. Uma década depois, foi designado para trabalhar como espião na Alemanha.

O Homem sem Rosto Masha Gessen Ed. Intrínseca 368 págs. Preço: R$ 63

Era tenente-coronel quando foi convidado para trabalhar com Anatoly Sobchak, professor universitário e prefeito de São Petesburgo. Sobchak convidou o ex-aluno para ser seu assessor e, mais tarde, deu a ele o cargo de vice-prefeito. Foi nessa época que Putin conheceu Boris Berezovsky, oligarca que ficou milionário comercializando carros Lada superfaturados na época da hiperinflação russa. O empresário operava no mercado financeiro e, mais tarde, investiu em uma petrolífera e comprou a emissora de TV pública russa, a Canal 1.

Putin continuou a trabalhar para a KGB em segredo e chegou a coronel. Após o fim da URSS, quando o órgão de inteligência viu-se remodelado sob o nome de FSB, foi convidado para assumi-lo. A partir daí, sua ascensão ao posto máximo de líder da Rússia foi tão rápida como improvável. Em 1999, a legislação não permitiria a Boris Yeltsin pleitear um novo mandato, mas ele também não queria entregar o governo a um adversário político, por medo de ser preso após deixar o poder.

O país ainda se recuperava da dissolução da URSS, que havia trazido grande prejuízo econômico aos russos. Era preciso alguém jovem, um outsider, que pudesse encarnar o espírito da “nova Rússia”. O poderoso Berezovsky, que havia financiado a campanha de Yeltsin, sugeriu o nome de Putin a Valentin Yumashev, chefe de gabinete do presidente.

Sem oposição

O título Homem sem Rosto, do livro de Masha, vem do fato de que Putin era um enigma até mesmo para Berezovsky, que o conhecia superficialmente e acreditava que seria fácil manipulá-lo. Putin era um burocrata sem carisma, um agente secreto. Parte de sua função à frente da FSB, portanto, era “não ter rosto”. Em 9 de agosto de 1999, Yeltsin o nomeou primeiro-ministro da Rússia.

Em janeiro de 2000, a dois meses da eleição, Anatoly Chubais, economista e vice-presidente russo, participava de um painel no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, quando um repórter lhe perguntou: “quem é Vladimir Putin?” Chubais olhou para os outros integrantes da mesa, todos ex-membros do governo russo, em busca de uma resposta. Nenhum deles soube responder. O auditório ficou em silêncio, até que Chubais pediu para lhe fazerem outra pergunta. Ninguém sabia descrever o homem que assumiria a Rússia pouco depois.

O livro de Masha não responde de forma direta quem é Putin, mas dá uma pista por meio do destino de dois de seus ex-aliados que passaram para a oposição. Boris Berezovksy foi encontrado morto em seu apartamento em Londres, enforcado, em 2013; Chubais foi internado com uma doença rara em agosto de 2022, logo após fazer declaração contra a guerra da Ucrânia. A agência europeia investiga se ele foi envenenado.

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