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Registro de internações por doenças respiratórias é quatro vezes maior durante incêndios no Pantanal

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A fumaça que invade Corumbá desde o início dos incêndios no Pantanal virou rotina para os moradores, que precisaram se adaptar para sofrer menos danos neste período de clima extremamente seco agravado pelas queimadas.

Pesquisa divulgada em maio mostra que crianças e idosos que vivem no Pantanal são os que mais são internados por doenças respiratórias nesta época do ano, marcada pela estiagem e pelos incêndios florestais.

De acordo com o estudo, que avaliou série histórica de internações de 2003 a 2019, o número de idosos internados triplica durante este período. No caso das crianças, a taxa de incidência de internações é quatro vezes maior.

Fogo às margens da BR-262 (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Períodos mais secos aumentam de 26% a 34% as internações hospitalares por doenças respiratórias como asma, bronquite ou infecções causadas pelos próprios incêndios. Em anos mais chuvosos, os pesquisadores notaram menos internações.

“O fogo dos incêndios emite fumaça com material particulado, um desses materiais é chamado de PM2.5; extremamente perigoso para a saúde humana, pois pode causar uma série de obstruções, irritação nos olhos, na garganta e no trato respiratório de forma geral”, explica a bióloga Camila Lorenz, pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo).

O estudo analisou três grupos nos 17 municípios que fazem parte do Pantanal, em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso: a população em geral, crianças menores de 5 anos e idosos acima de 60 anos.

Corumbá (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Doenças respiratórias e partículas tóxicas no ar

estudo foi realizado por cientistas do PELD (Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração) Fogo Pantanal, USP (Universidade de São Paulo), LASA UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Segundo Camila, a OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que o aceitável da partícula PM2.5 concentrado no ar é em torno de 10 microgramas por metro cúbico. “No pico dos incêndios no Pantanal em 2020, por exemplo, essa concentração ficou de 5 ou 6 vezes maior do que isso, chegando até a 60 microgramas por metro cúbico. A população estava inalando aquilo”, explica ao Jornal Midiamax.

Além das partículas na fumaça que contaminam o ar, as queimadas também soltam gases altamente perigosos para a saúde. Segundo o professor de Física e doutor em Geofísica Espacial, Widinei Alves Fernandes, num incêndio ocorre a queima de matéria orgânica que produz primariamente água, monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio.

Rio Paraguai (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

A OMS coletou um grande volume de evidências para demonstrar que os impactos da poluição atmosférica na saúde humana são tão graves quanto os associados ao tabagismo e a dietas não saudáveis.

Ação humana

Os incêndios no Pantanal em 2024 possuem como origem ação humana e não causas naturais, conforme os dados da nota técnica do LASA UFRJ divulgado nesta semana. Mais de 661 mil hectares foram consumidos pelo fogo no bioma neste ano, com mais de 80% dos focos de incêndio concentrados no município de Corumbá (MS), segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Conforme a SOS Pantanal, a maior parte dos focos de incêndio começou próximo à beira dos rios Paraguai e Paraguai Mirim – áreas povoadas e de fácil acesso através de embarcações.

Incêndios estão próximos da região urbana de Corumbá (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

A nota técnica do LASA informa que não foram registradas descargas elétricas no Pantanal nos meses de maio e junho, nos locais onde os focos começaram. Ou seja, sem chuvas e sem raios, é provável que a origem das chamas seja a ação humana.

Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Corumbá acumulava 110.464 focos de incêndio até a quinta-feira (27). O MPMS (Ministério Público de MS) identificou 13 pontos de ignição, onde o fogo começou, a serem investigados.

Segundo a ONG Ecoa, no levantamento de ‘análise remota de regressão das cicatrizes de incêndios’ se identificou sete pontos de ignição inicial em seis fazendas e em uma área sem cadastro no CAR (Cadastro Ambiental Rural).

Em algumas áreas queimadas, é possível observar a fuga do gado do fogo. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Há solução?

Não é a primeira vez que os corumbaenses precisam lidar com a fumaça invadindo o município. Nos outros anos, o fumaceiro também tomou conta e deixou a população vulnerável a doenças respiratórias. Camila recomenda uma alternativa para esse problema.

“Uma das alternativas é investir em planos de ação integrados para períodos de seca e políticas públicas que priorizem justamente esses dois grupos mais vulneráveis e implementem estratégias que consigam mitigar de alguma forma, diminuir; lidar com esse aumento das internações”, explica Camila à reportagem.

Fato é que os incêndios devem continuar, já que a seca extrema no Pantanal e o perigo de fogo fora de controle já estavam previstos. Durante quatro anos, entre 2019 e 2022, o bioma não encheu, pois não choveu o suficiente. Antes do mês de junho, por exemplo, a régua de Ladário (MS), principal medição do Rio Paraguai, registrou os menores níveis dentro de toda série histórica.

Em maio, a ANA (Agência Nacional de Águas) declarou situação de escassez hídrica na região. A tendência agora é que os focos aumentem com o agravamento da estiagem.

midiamax

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