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Com melhor desempenho entre as capitais do país, Marquinhos diz que ‘lockdown’ depende da população

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Em entrevista, prefeito de Campo Grande destacou indicadores do município como resultado de ações precoces

Lockdown tem sido a palavra utilizada para descrever uma espécie de “solução mágica” para o avanço do novo coronavírus no país, que se aproxima de 60 mil mortes por Covid-19. Para o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), a resposta é um pouco mais complexa: é possível não adotar o fechamento total dos serviços não essenciais se a população colaborar e se os estabelecimentos abraçarem regramentos. É o que tem sido feito na cidade desde o início de abril, quando Campo Grande superou um período de 15 dias de lockdown no qual até ônibus ficaram restritos.

Segundo Trad, no entanto, o lockdown é menos eficaz do que se pensa, ao menos em Campo Grande. O prefeito aponta que a violação das regras sanitárias, como uso de máscaras e distanciamento social, seria mais comum durante os períodos com maior restrição. Em entrevista concedida por telefone ao Jornal Midiamax, o prefeito também mencionou os números favoráveis da Capital: apesar dos óbitos – 10 registrados até a manhã desta quarta – a taxa de letalidade da Covid-19 é extremamente baixa comparada a outras cidades de MS. Confira a entrevista.

Jornal Midiamax – Prefeito, superamos 100 dias de medidas restritivas em Campo Grande devido ao novo coronavírus e entramos no quarto mês com os indicadores mais favoráveis entre as capitais brasileiras. O senhor está satisfeito com esse resultado?

Marquinhos Trad – Gostaria que não precisássemos estar enfrentando isso, mas na realidade esses números “menos desfavoráveis” são reflexo da nossa ação precoce. Não esperamos piorar para agir. Estamos num momento de aprendizado em todos os setores da vida. Não só na saúde pública, mas na economia, educação escolar, no lazer, no autocuidado. Há uma grande mudança. Mas poso destacar que, no primeiro caso confirmado na cidade, adotamos lockdown de 15 dias, com muitas restrições, e nesse tempo criamos o comitê de crise, que pensou em conjunto nas ações. Eu costumo dizer que essa pandemia, desde o início, trouxe uma discussão entre vida e empregos. Evidentemente que optamos pela vida, em primeiro lugar. Mas, também tivemos olhar atento para as empresas vulneráveis em função dessa pandemia, que poderiam até chegar a recuperação judicial.

Jornal Midiamax – O senhor considera que a flexibilização, após duas semanas de lockdown, foi acertada?

Marquinhos Trad – O que vocês [imprensa] chamam de flexibilização eu chamo de regramento. Como dizia, optamos pela vida. Decretamos lockdown em março, de 15 a 31 daquele mês. Fechamos toda a cidade, terminal rodoviário, escolas, transporte coletivo, lojas, igrejas… E durante o período de fechamento me preparei para três frentes, que permitiram esses números que temos hoje. A primeira foi a ampliação dos leitos existentes na cidade. Se não tivéssemos feito isso, já teríamos colapsado. O segundo ponto foi a ampliação dos profissionais de saúde na linha de frente, forma mais de 300 contratações de março pra cá. E o terceiro ponto foi lotar o nosso almoxarifado com EPI (Equipamentos de Proteção Individual) para esses profissionais. Até o momento não deixamos faltas luvas, máscaras ou avental para nenhum deles.

Jornal Midiamax – Por que o senhor diferencia flexibilização de regramento?

Marquinhos Trad – Porque não deixamos voltar de qualquer jeito. Cada estabelecimento que pode reabrir as portas teve que apresentar um plano de biossegurança e seguir regras básicas, como limitar número de pessoas no interior, disponibilizar álcool em gel. Esses planos também precisaram de aprovação na vigilância sanitária, precisaram ter assinatura de infectologista. Não foi um simples retorno.

Campo Grande tem apresentado uma adesão muito baixa ao isolamento social e o lockdown tem sido apontado como uma solução a ferro e fogo para fazer as pessoas ficarem em casa. Como o senhor vê essa questão?

Marquinhos Trad – Acho que essa baixa adesão está relacionada à nossa cultura. Nosso país não é exemplo de obediência a regras e princípios, a ponto de boa parte do país se regozijar daquele adágio da “Lei de Gerson”, que diz que para tudo se dá um jeitinho. É complicado, porque a fiscalização não está em todo lugar o tempo todo, é preciso ter conscientização da população. Mas manter em casa por lockdown não me pareceu muito eficaz justamente pelo comportamento social. Não adianta fazer lockdown porque isso já não funcionou em várias cidades, inclusive em MS. Se vc faz lockdown aqui, as crianças vão pra rua empinar pipa, deixam de usar máscara… Vão para o pula-pula no Mirante do Aeroporto, reúnem-se em cadeiras na calcada e ficam compartilhando tereré. Notamos que o lockdown não é interpretado como um isolamento, então não nos pareceu eficaz. Com o comércio aberto por regramento, há pelo menos um controle no uso da EPI, na higienização…

Jornal Midiamax – Com o aumento dos números [apenas nesta quarta-feira, o boletim da SES contabilizou 711 novos positivos em MS, dos quais 323 foram em Campo Grande], a cobrança por lockdown é muito alta?

Marquinhos Trad – Sim. Eu sou confrontado com números o tempo todo, mas o que temos aqui são os melhores indicadores do país. Lamentamos ter 10 mortes pelo coronavírus, mas já compararam com outras capitais? Não é uma competição, mas esse número baixo, por mais lamentável que seja, é reflexo de algo. Sabe qual é a taxa de letalidade da Covid-19 em Campo Grande? É 0,4%. Sabe quanto é em Dourados? É 3,6%. Em Corumbá é 3%. Nós temos registro de 2.491 casos em Campo Grande, mas são 1.538 recuperados, menos de mil casos ativos. Quem vem a Campo Grande, inclusive da imprensa nacional, descreve a cidade como um paraíso frente ao que está acontecendo no país. Será que estamos tão errados assim? Como não reconhecer que estamos no caminho certo?

Jornal Midiamax – Há algumas situações que causam muito transtorno aos campo-grandenses, como no transporte público. Há muitas denúncias e relatos de violação dos decretos municipais e…

Marquinhos Trad – Olha, essa questão da fiscalização não deveria nem existir. Num mundo ideal, o poder público estaria lidando com outras questões que não fosse fiscalizar adultos. Sabemos dessas questões. Elas não ocorrem só nos ônibus. São as pessoas que não usam máscaras, as pessoas que dirigem mexendo no celular, sem cinto de segurança. É como eu falei há pouco, há uma cultura da violação de regras por aqui. O motorista embarca o passageiro, mas lá dentro ele tira a máscara. Por que o usuário não pode colaborar? A fiscalização atua, temos fiscalizamos o uso de máscaras nos coletivos, temos fiscalizamos a superlotação. Temos interditado estabelecimentos que fazem festas, vocês veem isso tudo. Mas me impressiona é que as pessoas cometem essas infrações mesmo sabendo que não devem, que há regras.

Fonte: midiamax

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