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Política

Após fracasso de Guedes, pré-candidatos articulam nomes para a Economia

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Agravamento da crise precipita articulações para a escolha do chefe da equipe econômica no próximo governo. Desgastado, Paulo Guedes é cada vez menos cotado para permanecer no posto, mesmo em caso de vitória de Bolsonaro

Faltando menos de um ano para as eleições, os principais pré-candidatos à Presidência já são conhecidos. No entanto, com o agravamento da crise econômica do país, nos bastidores do mercado a preocupação é, também, com a equipe a ser escolhida para gerir o Ministério da Economia, embora ainda seja cedo para apontar os nomes mais prováveis para a pasta. No caso da reeleição do presidente Jair Bolsonaro, que ainda está sem partido, no entanto, especialistas afirmam que Paulo Guedes, desgastado e alvo de críticas do Centrão, dificilmente será mantido no ministério.

Em um cenário em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) seja conduzido ao seu terceiro mandato, o futuro ministro sairá da ala petista. O mais cotado é governador da Bahia, Rui Costa (PT-BA), seguido por Nelson Barbosa, ex-ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Dilma Rousseff. O ex-presidente quer uma pessoa experiente, capaz de conduzir uma agenda complexa em 2023. Lula defende a forte participação do Estado na economia, recuo nas reformas, freio nas privatizações, o fim do teto de gastos e expansão de programas de transferência de renda.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem como nome forte o ex-ministro da Fazenda no governo Temer, Henrique Meirelles, atual secretário da Fazenda e do Planejamento do estado. A regra constitucional do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo, foi elaborada na gestão de Meirelles na Fazenda. O tucano defende a responsabilidade fiscal como um legado do partido.

No caso do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que também disputa as prévias internas da legenda, a articulação é com o economista Aod Cunha, coordenador da área econômica da pré-candidatura do tucano ao Planalto. Leite tem explicitado um conjunto de propostas de cunho liberal, mas com “consciência” social. Já afirmou, inclusive, que o próximo presidente precisará também investir em reformas e fazer um “certo ajuste no teto de gastos”.

Intervencionista na economia, o presidenciável Ciro Gomes (PDT-SP) tem feito acenos ao mercado, trocando ideias com os economistas liberais Pérsio Arida e André Lara Resende, dois dos pais do Plano Real. Ciro tem mantido contato também com os ex-ministros Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser Pereira, e o ex-presidente do BNDES no governo Temer Paulo Rabello de Castro, além do professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, defensores da presença do Estado na economia.

Visto como centralizador, entretanto, Ciro Gomes tenderia a escolher nomes de sua extrema confiança, para que ele mesmo exercesse, na prática, a função de ministro da Economia, avalia o professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Josué Medeiros. Entre os nomes para assumir a Economia em uma possível gestão do candidato do PDT, o professor destaca Nelson Marconi, coordenador do programa de governo de Ciro, e Mauro Benevides Filho, ex-secretário de Planejamento do Ceará, que acompanha o candidato pedetista desde a década de 1990.

Mais recente candidato a entrar na disputa, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve procurar economistas de centro para formar a equipe. “O Gilberto Kassab (presidente do partido) é o idealizador da candidatura do Pacheco. Creio, portanto, que ele — que é economista, formado na FEA USP — terá grande influência em um eventual governo do Pacheco como presidente, que deverá seguir mais a linha de centro. O Kassab o lançou como terceira via, afastando-se dos extremos. O Pacheco já começou, inclusive, a criticar o governo Bolsonaro por ter furado o teto”, lembra Gil Castello Branco, diretor-geral da Associação Contas Abertas. Por ser filiado ao PSD, Henrique Meirelles também pode ser associado à candidatura de Pacheco.

O ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, cotado na disputa pelo Podemos, tem conversado com o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (sem partido), defensor da responsabilidade fiscal e das reformas tributária e administrativa. Apesar de ainda não ter deixado claro seu posicionamento no plano econômico, o ex-juiz publicou nas redes sociais, no último dia 22, uma coluna onde destacou a relação entre os retrocessos no combate à corrupção e a disparada da inflação. “Com uma agenda pública focada em interesses pessoais e não no bem comum, é impossível conciliar estabilidade econômica com avanços sociais”, alfinetou.

Já a eventual equipe do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para a Economia ainda é tida como uma incógnita por especialistas da área.

Investidores querem estabilidade

O diretor geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco ressalta que, independentemente de quem seja o próximo ministro da Economia, os investidores esperam previsibilidade, estabilidade, planejamento e responsabilidade fiscal. “Anseiam por menos tensões. No Brasil, há diagnósticos suficientes. O que falta é um ambiente político que permita a implementação das medidas necessárias”, defende.

As orientações políticas dos candidatos, contudo, tornam o jogo mais complicado. Professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Josué Medeiros avalia que, com perfis econômicos mais liberais, Doria, Leite, Moro e Mandetta, optariam por um líder para a Economia bastante comprometido com a agenda do mercado.

“Acredito que os quatro buscariam alguém parecido com o ex-ministro Henrique Meirelles, muito comprometido com a agenda financeira, mas que buscaria justificá-la com alguma dose de política social”, afirma. Nomes como o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida se encaixam nesse perfil, avalia o professor. “Com esses ministros, teríamos mais privatizações e algumas reformas que Bolsonaro não fez, como a administrativa”, pontua.

O cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta que Eduardo Leite possui história de responsabilidade fiscal e perfil liberal. Por outro lado, Dória também tem experiência administrativa como governador e usa como trunfo os resultados positivos na economia de São Paulo. “Mesmo na pandemia, o crescimento de SP é muito vigoroso. Os dois têm o mesmo perfil: liberal e de responsabilidade nas finanças públicas”, avalia.

Lula e Ciro Gomes, destaca Prando, estão num perfil intervencionista e estatizante. “Acredito que Ciro tem experiência administrativa (já foi ministro da Fazenda), mas o perfil dele é estatizante, intervencionista, de esquerda. Porém, está mais ligado à responsabilidade fiscal do que Lula, que sempre pode dar uma guinada populista. Ambos causariam mais apreensão no mercado por causa desse perfil”, analisa. Para o analista do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, “para ter uma melhor votação, Lula terá que deixar de lado algumas das posições do PT e adotar um discurso mais centrista”.

Caso venha como candidato, um dos desafios de Sergio Moro é o de apresentar amplamente suas ideias para a Economia, que, até agora, são desconhecidas, defende. “Moro parece mais ligado ao perfil liberal, mas isso ainda não está claro. Não se conhece de fato o pensamento dele sobre a economia. Ele tem uma marca forte, importante na comunicação política. Bateu no PT e no Lula. Com isso, consegue trazer os antipetistas e, como tem batido de frente com Bolsonaro, atrai ‘bolsonaristas arrependidos’. Contudo, na economia, precisa debater mais, expor as ideias”, afirma Prando.

O mesmo ocorre com Mandetta, que precisa construir um diálogo com o setor financeiro, ressalta. “Ele parece ter um perfil que tende ao liberal, mas com preocupações sociais. No entanto, os pressupostos econômicos ainda não estão definidos. Mandetta tem traquejo político, ótima capacidade de comunicação, o que já foi visto na Saúde e incomodou Bolsonaro”, lembra.

Já com relação a Bolsonaro, o cientista político acredita que existem muitos desafios para reeditar a aliança com os liberais, caso o presidente seja reeleito. “Acredito que a ruptura do teto de gastos inviabiliza esse tipo de aliança”, conclui.

Fonte:https://www.correiobraziliense.com.br

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