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Quem é Rishi Sunak, o novo premiê do Reino Unido

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Rishi Sunak tem apenas 42 anos, não bebe álcool e é casado com a filha de uma família bilionária indiana. Nascido na Índia, ele é esbelto, compenetrado e está sempre vestido impecavelmente. Um ex-colega da escola definiu à revista The Tatler o ex-banqueiro como “inteligente o suficiente, sensato o suficiente e bem-educado o suficiente” para ter uma carreira bem-sucedida.  Ele é uma espécie de anti-Boris Johnson, o ex-premiê que cultivou a imagem do boêmio acima do peso e desleixado, de camisa pendurada fora das calças.

Ascensão meteórica

O caminho de ascensão de Sunak foi pavimentado pelos genitores. O pai era médico, a mãe administrava sua própria farmácia; e a família, que emigrou da África Oriental, mantinha valores tradicionais indianos de trabalho duro e sucesso acadêmico. Rishi pôde frequentar o Winchester College, uma escola particular cara, e a tradicional Universidade de Oxford. Depois disso, porém, foi para Stanford, nos EUA, concluir seus estudos de administração – uma universidade não menos elitista, mas com orientação mais internacional.

Em Stanford, também conheceu sua esposa, Akshata Murty, filha do cofundador da gigante do software Infosys. Rishi Sunak ganhava a vida em finanças, primeiro como analista do Goldman Sachs e depois como sócio de dois fundos de hedge. Ele conta entre os deputados mais ricos do Reino Unido. No verão, durante a campanha eleitoral interna do partido, os tabloides o acusaram de percorrer os distritos eleitorais calçando caros sapatos Prada. “Esses sapatos são muito velhos”, defendia-se Sunak. A riqueza é sua maior fraqueza política.

No entanto, a carreira política de Sunak foi meteórica. Eleito deputado conservador apenas em 2015, foi nomeado cinco anos depois por Boris Johnson como ministro das Finanças, sendo logo considerado seu príncipe herdeiro. No primeiro semestre de 2022, no entanto, um escândalo abalou sua imagem, pois vieram a público as tramas fiscais de sua esposa.

Cidadã indiana, Akshata Murty teria economizado milhões em impostos porque, como “não residente”, pois uma peculiaridade da lei do Reino Unido, lhe permitia não declarar sua renda multimilionária originada no exterior. Tais prevaricações não caem bem aos olhos dos eleitores, mas o comitê de ética da Câmara dos Comuns não viu no caso nenhuma violação da lei.

Ao mesmo tempo, foi revelado que Rishi Sunak ainda possuía um green card americano, anos após seu retorno ao Reino Unido e quando ele já era ministro das Finanças. O documento permitiu que vivesse e trabalhasse nos Estados Unidos, mas por que guardava o papel tanto tempo depois de ter iniciado carreira política no Reino Unido? Levantaram-se então dúvidas sobre sua lealdade à terra natal.

Onde Rishi Sunak está politicamente?

Como Boris Johnson, Rishi Sunak é um adepto do Brexit. Durante a campanha para a consulta popular sobre a saída do Reino Unido da UE em 2015, declarou em seu distrito eleitoral que deixar o bloco tornaria o país “mais livre, mais justo e mais próspero”. Essa postura agora lhe rende a lealdade da direita conservadora, mas por outro lado pode ainda lhe servir de fardo. Porque há uma consciência crescente no Reino Unido de que muitos dos problemas econômicos dos últimos anos têm a ver com o Brexit.

Um dos super-ricos apoiadores do Partido Conservador, o investidor Guy Hands, alertou agora na BBC4 que “o Brexit, como foi implementado, é totalmente sem esperança e levará o Reino Unido a uma catástrofe econômica”. O próximo primeiro-ministro deve ser intelectual e politicamente capaz de “renegociar” o Brexit.

Muitos agora estão se manifestando de maneira igualmente crítica, mas uma reviravolta em relação ao assunto colocaria Sunak em sério conflito com os convictos do Brexit entre os conservadores. Além disso, muitos fãs de Johnson continuam a culpá-lo pela queda de seu ídolo, desencadeada pela renúncia do então ministro em julho.

Mas sua grande popularidade como chefe das Finanças resultava de sua generosidade. Sunak assumiu o cargo durante a pandemia de covid-19, e prometeu fazer “todo o necessário” para que a economia britânica superasse a crise. Ele lançou um programa de 350 bilhões de libras prevendo, para evitar o pior, pagamentos de reposição salarial e ajuda para empresas.

Mas sua campanha mais popular foi provavelmente “Coma fora para ajudar”. Através dela, o Estado pagava metade dos custos de uma ida ao restaurante para manter vivo o setor nacional de gastronomia. Com essa generosidade, porém, é que começou também o aumento da dívida nacional, assim como em toda a Europa. Como primeiro-ministro, ele terá que fazer exatamente o oposto e anunciar cortes profundos nos serviços públicos, devido ao atual rombo do orçamento nacional.

Rishi Sunak torna-se o primeiro primeiro-ministro britânico de uma família de imigrantes não brancos. Em entrevistas, disse ter experimentado relativamente pouco racismo na juventude. A reputação e a relativa riqueza de sua família provavelmente o protegeram disso em grande medida. O que não quer dizer que sua ascensão não desperte tais reflexos em alguns britânicos.

“Rishi nem é britânico, ele não ama a Inglaterra”, argumentou um telespectador ao telefone à emissora LCB. E na discussão com a apresentadora, ficou claro que o que o preocupava realmente era a cor da pele do político.

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