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Saúde

Pandemia aumentou mortes por câncer e recidiva da doença, diz especialista

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O adiamento de cirurgias e o atraso no diagnóstico de tumores durante a pandemia aumentaram o número de mortes por câncer e o reaparecimento da doença em pacientes oncológicos.

Nas piores fases da crise, médicos foram deslocados para atender casos de Covid, enquanto pacientes deixaram de procurar os hospitais por medo de pegar o vírus.

Esse cenário comprometeu o diagnóstico do câncer na fase inicial, que aumentaria as chances de cura, e atrasou procedimentos cirúrgicos.

Em 2020, as biópsias tiveram redução de 39,1% entre março e dezembro em comparação ao mesmo período de 2019. Já nos casos do papanicolau e da mamografia, as reduções foram de 50% e 49,8%, respectivamente.

Os números são do Radar do Câncer, do Instituto Oncoguia e foram compilados usando como base dados do Datasus-órgão do Ministério da Saúde responsável pelos sistemas de informação do SUS.

“A gente tem dados mostrando que o atraso na cirurgia tanto para câncer de mama quanto para câncer de ovário impactou a sobrevida das nossas pacientes”, diz Cristiano de Pádua, oncologista do Hospital de Amor, antigo Hospital de Câncer de Barretos.

“Observamos um número maior de recidiva de doenças que eram curativas em um estágio inicial e vimos também um maior número de mortes de mulheres, provavelmente associado ao atraso da cirurgia”, afirma Pádua, que esteve no último painel da 7ª edição do Seminário Sobre Câncer, realizado pela Folha em 15 e 16 de agosto, com patrocínio da Bristol Myers Squibb, do Hospital Sírio-Libanês e da Pfizer.

Embora o Ministério da Saúde não tenha orientado interrupção das cirurgias oncológicas, o que se viu na prática foi à suspensão dos procedimentos por falta de equipe.

De acordo com um estudo realizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), 24% dos pacientes com câncer disseram que a pandemia afetou, de alguma forma, o tratamento contra a doença em 2021. No ano anterior, esse número chegava a 33%.

“A equipe que atendia o paciente foi muito impactada, porque ficou doente ou foi deslocada para atender Covid”, diz Maira Caleffi, mastologista do Hospital Moinhos de Vento. Ela diz que na unidade onde atua as cirurgias oncológicas não pararam, mas os pacientes não apareciam.

“Eles deixavam de vir porque tinham muito medo. Tinham muito mais medo da Covid do que do câncer e acabavam ficando em casa.”

Rafael Kaliks, oncologista e diretor científico do Instituto Oncoguia, diz que a interrupção de cirurgias oncológicas de fato é uma das razões para o aumento da mortalidade de pacientes com câncer.

Somado a isso, ele lembra que muitos profissionais decidiram sair do SUS em razão do esgotamento físico e psicológico gerado pela pandemia.

“Hoje, a gente tem um problema adicional, que é a evasão de médicos e enfermeiros do serviço público”, diz ele, lembrando que isso acentua as dificuldades dos usuários da rede pública.

Para minimizar os impactos da pandemia sobre o tratamento do câncer, ele considera importante apostar em exames e procedimentos preventivos, como mamografia e a vacinação contra HPV.

Além disso, Kaliks diz que o governo deveria promover uma busca ativa a pacientes oncológicos.

“Isso significa conscientizar as pessoas de cada família que se alguém está tendo sangue nas fezes, por exemplo, precisa investigar”, diz ele, salientando que, nesses casos, o paciente deve ser encaminhado a uma unidade de saúde que possa fazer uma investigação rápida.

Posição semelhante tem Denizar Vianna, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Ele diz que a busca ativa é importante para encontrar casos de câncer não identificados e que melhorar a comunicação com a sociedade é um passo fundamental para a estratégia funcionar.

Vianna considera importante também que as políticas de combate ao câncer no Brasil sejam coordenadas, assim como aconteceu nas campanhas contra o HIV, cujos programas de prevenção e tratamento se tornaram referência mundial.

“Temos que reforçar as políticas do câncer. Para isso, precisamos redefinir governança, financiamento, linhas de cuidado e atribuições de todos os entes da federação.”

Fonte CE.

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