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Contaminação em Dourados é exponencial crescente e não dá sinais de recuo nas próximas duas semanas, diz estudo
Relatório técnico divulgado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU) aponta que, em Dourados, segunda maior cidade do Mato Grosso do Sul, a pandemia ainda está em fase de crescimento e não dá sinais de redução do número de casos confirmados da Covid-19 para as próximas duas semanas.
De acordo com o professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia, Marco Aurélio Boselli, as medidas de isolamento social são as mais eficazes até o momento para conter o avanço da pandemia. “Fizemos previsões baseadas em um modelo científico testado com dados do mundo todo. Este estudo mostra que a epidemia ainda está crescendo em Dourados e com tendência de aumento do número de casos e óbitos para as próximas semanas, segundo a previsão”, explicou o professor que é mestre e doutor em Ciências, pelo Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
O pesquisador, que tem se dedicado aos estudos de modelos matemáticos epidemiológicos usando a experiência profissional em matemática e computação, explica que os modelos foram desenvolvidos para ajudar no entendimento da evolução da doença e podem auxiliar autoridades na tomada de decisões.
No Gráfico 1, é possível identificar que há uma projeção ascendente de crescimento exponencial no número de casos acumulados em Dourados nos próximos 14 dias. Isso significa dizer que a epidemia não está sob controle na cidade. “Precisamos reiterar que são previsões a partir de um modelo epidemiológico que considera diferentes variáveis. As medidas adotadas e cuidados assumidos pela população podem diminuir o número de casos e, consequentemente, os óbitos. Por outro lado, a falta de medidas mais ostensivas em relação ao isolamento social e cuidados por parte das pessoas podem fazer o número de casos crescer acima do previsto”, esclareceu Marco Aurélio Boselli.
O Gráfico 2 indica, por análise preditiva que, em 14 dias o número de óbitos pode dobrar na cidade. Os dados obtidos mostram que houve crescimento contido do número de óbitos até 13 de junho. A partir desta data, o crescimento passou a acompanhar o quadro de óbitos acumulados tendo um aumento exponencial em seu número. Isto é esperado, uma vez que o número de casos continuou crescendo.
Estudo comparativo
O relatório da pesquisa também apresenta uma análise dos dados de Dourados em comparação com os demais municípios do Mato Grosso do Sul. De acordo com a pesquisa, Dourados exemplifica a interiorização da pandemia no Brasil e embora tenha ¼ da população de Campo Grande, apresenta um número total de casos diagnosticados aproximadamente 50% maior do que os registrados na capital. Os dados analisados foram obtidos a partir das informações disponibilizadas pelo Portal Coronavírus do site do Ministério da Saúde sobre o número de casos (acumulados e novos casos) e sobre a população de cada município publicados no dia 23 de junho.
“Dourados está em primeiro lugar em número de casos confirmados no MS e em quinto lugar em número de casos relativos por cem mil habitantes. A análise geoespacial mostra que as cidades que aparecem nas primeiras posições têm populações muito inferiores e isso também chama a atenção e acende o alerta para o MS”, explica o professor e pesquisador Fernando Ferraz Ribeiro do Laboratório de Estudos Avançados em Cidade, Arquitetura e Tecnologias Digitais (LCAD – UFBA). Na pandemia da Covid-19, o pesquisador tem procurado aliar a experiência em análise de dados geoespaciais aos estudos com base em dados epidemiológicos.
De acordo com Fernando Ferraz Ribeiro, o aspecto geográfico é de grande impacto na análise de dados de fenômenos complexos com as características da pandemia provocada pela Covid19. Segundo o professor da UFBA, os estados, cidades, até mesmo subdivisões menores do espaço como bairros e localidades ou maiores como países e continentes não delimitam populações estanques e incomunicáveis. Para ele, entender as dinâmicas de deslocamento das pessoas é fundamental para rastrear os caminhos que o vírus percorreu, mas também para estabelecer estratégias de combate eficazes.
O relatório apresenta o mapa de casos confirmados no Mato Grosso do Sul (Gráfico 3). Dourados e os municípios do entorno aparecem em destaque. Das quatro cidades que apresentam maior número de casos por cem mil habitantes apenas Guia Lopes da Laguna não faz fronteira com Dourados. Considerando as dez cidades com maior número de casos por cem mil habitantes, seis delas fazem divisa com Dourados, que figura em quinto lugar. Dessa lista (Gráfico 4), Douradina está em segundo, Fátima do Sul em terceiro, Vicentina em quarto, Rio Brilhante em sexto, Itaporã em oitavo e Deodápolis na décima posição. Guia Lopes da Laguna, que está em primeiro lugar da lista de casos relativos, não faz fronteira com Dourados, embora tenha divisas com dois municípios que fazem fronteira com Dourados.
Considerando os números absolutos, Dourados totaliza 34% dos casos confirmados no Mato Grosso do Sul. “Nossa análise indica que 47,2% dos casos registados até o dia 23 de junho se concentram em Dourados e municípios – Maracaju, Rio Brilhante, Itaporã, Douradina, Deodápolis, Fátima do Sul, Caarapó, Laguna Carapã e Ponta Porã – que fazem fronteira com a cidade objeto do estudo. Se forem acrescidos os municípios de Vicentina e Glória de Dourados, esse indicador alcança quase a metade (48,6%) dos casos do estado”, destaca Everaldo Freitas Guedes, doutor e mestre em Modelagem Computacional e Tecnologia Industrial pelo SENAI CIMATEC, pesquisador atuante nas áreas de Probabilidade e estatística, com enfoque em Análise de Séries Temporais, Mineração de Dados, Machine Learning e Estatística Computacional.
De acordo com o estatístico, a Covid-19 evolui de maneira acelerada em Mato Grosso do Sul (conforme Gráfico 5). Até 23 de junho foram registrados 5.784 casos com 55 mortes. Mais da metade dos casos da doença está concentrada nos municípios Campo Grande (23,1%) e Dourados (34,0%), que totalizam 57,1% dos casos da doença. “Entre as duas cidades, desde os primeiros registros da pandemia no estado, Dourados tem apresentando as maiores taxas de crescimento mensal em comparação com o mês anterior. Por exemplo, em maio/20 o número de infectados cresceu 2.563,6% em relação a abril/20 enquanto em junho/20, essa taxa alcança 465,9%”, alerta Everaldo Freitas Guedes.
O pesquisador destaca, ainda, que é importante ressaltar que o vírus que causa a Covid19 é transmitido principalmente por meio de gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou exala. “Essas gotículas são muito pesadas para permanecerem no ar e são rapidamente depositadas em pisos ou superfícies. Assim, ações preventivas diárias que possam auxiliar na prevenção da propagação de vírus respiratórios devem ser reforçadas”, orienta o professor e estatístico.
Para a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Fernanda Vasques Ferreira, esse dado é alarmante e reflete o impacto das reduzidas medidas de isolamento social implementadas em Dourados. “Analisando os decretos municipais, identifico que não houve medidas de efetivo impacto para reduzir a mobilidade da população e aumentar a taxa de isolamento social”. A pesquisadora destaca que o dia das mães é uma data social em que as pessoas tendem a se reunir e é também uma data importante para o comércio. “Exatos 15 dias após o dia das mães – em que houve ampliação do horário de funcionamento do comércio da cidade e, portanto, tendência de aglomeração – identificamos uma correlação no crescimento da curva de casos de Dourados”, explicou a pesquisadora que é doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB).
Comparação com Manaus
O relatório técnico também faz uma análise comparada com a curva de casos confirmados registrada na cidade de Manaus (AM), considerada um caso emblemático no Brasil. A comparação entre casos de estudo e casos emblemáticos da pandemia contribui para antecipar cenários futuros, embora, segundo os pesquisadores, toda ferramenta analítica apresente limitações.
A nota técnica explica que no começo da série temporal, a cidade de Manaus apresenta evolução com velocidade mais acentuada que Dourados (conforme Gráfico 6). Próximo ao ponto de arrefecimento da curva da capital do Amazonas, a evolução da cidade de Dourados começa a apresentar velocidade crescente com inclinação próxima à registrada anteriormente em Manaus, por tempo também semelhante. Após um ligeiro arrefecimento, a velocidade da curva que indica os casos de contaminação de Dourados segue sem sinais de mudança de padrão. É possível identificar que as curvas de casos por cem mil habitante se aproximam e que as curvas que mostram a velocidade da contaminação também se aproximam, considerando os critérios apresentados.
Fonte: oprogresso