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Economia

Quanto tempo o Brasil suporta uma quarentena?

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Quanto tempo vamos aguentar a quarentena? Está é a pergunta que milhares de brasileiros estão se fazendo. Num país que mal se recuperou da última crise econômico, com um nível de informalidade que bate os 24 milhões de pessoas, com outros 28 milhões de subempregados, mais 12 milhões desempregados e 61 milhões de endividados, estamos claramente caminhando para o caos se o lockdown – bloqueio das atividades da economia – se prolongar por dois ou três meses e não houver ajuda financeira à população.

Felizmente, o presidente Jair Bolsonaro voltou atrás com a MP 972, que fez o Brasil acordar atônito, diante da possibilidade de suspensão por quatro meses dos contratos de trabalhos, sem remuneração. Do contrário, o mergulho no abismo seria imediato.

Identificar de onde virão os recursos que manterão empresas vivas, trabalhadores com dinheiro em mãos e a economia girando minimamente é um desafio, embora todos tenham conhecimento dos excessos de gastos  do poder público com salários acima do teto, mordomias nos três Poderes, a ausência de tributação de grandes fortunas, os lucros excessivos dos seis maiores bancos do país, e por aí vai…

O governo tem que gastar

Para o economista da Ceplan, Jorge Jatobá, o governo tem que gastar dinheiro. “Não tem jeito”, diz. Ele lembra que além das possibilidades acima, o  Banco Central pode emitir moedas, o que não comprometeria a inflação, porque ela está muito baixa. Poderia ainda emitir dívida (hoje ela está em 78% do PIB) e vender parte das reservas cambiais (com bastante cuidado para não gerar uma crise cambial)”, orienta.

Jorge Jatobá

Jatobá defende ferrenhamente a quarentena, para evitar “um grande desastre na saúde pública”, mas alerta que essa supressão impacta sobretudo nas cadeias mais fracas da economia, o que exige uma resposta à altura do poder público. “Tenho dito: que se dane o déficit público e o teto de gastos. É preciso gerar dinheiro, remanejar dinheiro, raspar o tacho. As medidas precisam ser redistributivas. Essa é a hora!”, ensina.

Rodolfo Guimarães, economista do Condepe-Fidem, concorda com a insuficiência de recursos. Ele lembra que os países afetados pela Covid-19 estão alocando algo acima de 10% do PIB para combater a pandemia e no Brasil o volume não chega a 3%. “A Espanha alocou 20% do PIB; EUA, algo em torno de 10%. E isso não tem relação com ser pobre ou rico”, diz. Alguns economistas apontam que o Brasil precisaria de, no mínimo, 7% do PIB, o que corresponde a cerca de R$ 500 bilhões, bem acima dos R$ 55 bilhões anunciados no domingo (22).

Que a arrecadação vai cair, vai. Hoje, 95% dos shoppings center do Brasil estão fechados e estima-se que ¼ das lojas que operem neles não sobrevivam após uma pousa prolongada. “Que o governo tem que assumir esse ônus, tem”. É isso que pensa o economista Rafael Ramos, da Fecomercio. “O adiamento deste reconhecimento só alongará os efeitos negativos para a economia e para a população, no que diz respeito a saúde pública”.

Ramos também acha tímido o aporte do governo. “As medidas do governo federal não injetam de fato recursos na economia, apenas antecipam valores ou adiam e parcelam impostos e juros. Assim, não existe um choque considerável para que o setor produtivo acredite em melhora próxima ou mitigação de impactos negativos”.

Lockdown

A preocupação do economista Thobias Silva é com tempo de duração da interrupção das atividades econômicas. O lockdown deve merecer um olhar muito atento, em sua opinião.

“Se o lockdown se estender muito, nós vamos quebrar”, assegura o economista, para quem os efeitos do vírus são muito mais psicológico do que físicos. “Em termos estatísticos, o índice de letalidade desse vírus é  bem mais baixo que o da SARS ou do H1N1”, sustenta. Por isso, ele defende a adoção de medidas para reduzir o lockdown. “Temos que promover a retomada das pessoas às suas atividades de forma gradativa. Ou não vai ter dinheiro para suprir o resto”, analisa.

Thobias Silva

Ele sugere robustos investimentos no sistema de saúde para dar sustentação à essa retomada. “O que temos que pensar é: como fazer a economia voltar a funcionar nos próximos dias?”. Thobias sustenta que o governo precisa fazer mais pelos mais pobres. “Isso é fundamental. Se não fizermos isso e prolongarmos o lockdown, essas pessoas vão começar a roubar, a saquear. O pacote norte-americano de combate ao coronavírus foi recusado domingo (22), no Senado, justamente porque não prevê uma ajuda apropriada aos mais carentes”, lembra.

“Se a economia parar, essas pessoas não vão aguentar. Os ricos vão trocar de país e vamos viver num inferno social. Salvar a economia significa salvar as pessoas, para que haja arrecadação, pois sem receita o estado não vai poder suprir o básico.”

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