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De resorts de luxo a aviões: Empresas que ‘matam’ vírus multiplicam negócios com a pandemia
Busca por tecnologias de descontaminação atrai clientes dos setores de hotelaria e transporte; companhias brasileiras devem fechar este ano com lucro 150% maior devido ao novo coronavírus
O “novo normal” imposto pela pandemia da Covid-19 amplificou urgências que antes eram restritas para setores específicos. O risco de transmissão do novo coronavírus por superfícies contaminadas e até pelo próprio ar multiplicou a busca por empresas especializadas na desinfecção de ambientes. Se até pouco tempo atrás a lista de clientes era limitada para setores como laboratórios, grupos farmacêuticos ou indústrias de alimentos — áreas onde o alto grau de higienização é fundamental —, a partir da pandemia da Sars-CoV-2 os pedidos começaram a surgir de todos os lados, com demandas que vão desde a desinfecção de um resort de luxo até da frota de carros de aplicativo e aviões utilizados no resgate de estrangeiros presos em Wuhan, a província chinesa que se tornou o epicentro da doença.
A startup Aurratech é exemplo deste fenômeno. A empresa brasileira viu a cartela de clientes pular de 35 para mais de 100, impulsionando os lucros e a visibilidade da marca. “O nosso principal desafio foi atender toda essa nova demanda. Embora estivéssemos capacitados tecnicamente, a quantidade foi maior do que esperávamos. Tivemos que buscar fornecedores que não tínhamos, além de terceirizar parte da nossa produção para conseguir dar conta”, afirma Pedro Girardelli, diretor de operações para a América Latina. A empresa paulistana, que também tem representações nos Estados Unidos, África do Sul e Espanha, desenvolveu a tecnologia “fog in place”, que transforma o produto que “mata” microrganismos em uma espécie de névoa que desinfeta todo o ambiente. O método foi desenvolvido para atender a demanda de empresas de suco de laranja na desinfecção dos tanques de armazenamento e adaptado para outras realidades.
A eficácia do produto foi comprovada na descontaminação do hotel H10 Costa Adeje Palace, no litoral da Espanha. Em fevereiro, as autoridades sanitárias locais colocaram todos os mais de mil hóspedes do resort de luxo em quarentena após a confirmação do primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus no país europeu. O sucesso no desafio levou a marca a fechar parcerias com dezenas de empresas, como o aplicativo de transportes 99 e a fabricantes de ônibus Marcopolo. Sem revelar números, Girardelli admite que o faturamento da empresa deve dobrar neste ano por causa do novo coronavírus. “Abrimos clientes novos da área médica, como clínicas e hospitais, que buscaram soluções de desinfecção adicionais. Era um setor que já fazia parte do nosso plano de expansão, mas que a pandemia adiantou.” Com 14 anos de experiência, a Ecoquest também precisou se adequar para a explosão da demanda em meio à pandemia do novo coronavírus. A empresa é a única brasileira que oferece soluções fotocatalíticas, uma tecnologia desenvolvida pela Nasa, para a descontaminação de ambientes e tratamento do ar através de luz ultravioleta. O número de clientes mais que dobrou nos últimos meses, passando de uma base de 250 para mais de 600. “A pandemia anabolizou os setores que já atendíamos, mas 50% dos novos clientes foi de escritórios corporativos preocupados com a qualidade do ar para o retorno dos funcionários”, afirma Henrique Cury, presidente da empresa. O bom momento gerado pela pandemia impulsionou o crescimento nos negócios que já vinha ocorrendo nos últimos anos. “Em 2019, tivemos o nosso melhor ano, mas, somente no primeiro semestre de 2020, já tivemos o faturamento o correspondente a todo o ano passado. Para o fim do ano, é esperado o aumento de 150%”, afirma o presidente.
A brasileira Ambipar foi convocada pelo governo do Reino Unido para desinfectar aviões e ônibus usados no translado de cidadãos britânicos que estavam isolados na província chinesa de Wuhan, apontada como a origem da pandemia da Covid-19. Com presença em 15 países, a empresa já estava acostumada com cenários adversos, como a desinfecção de ambientes contaminados pelo vírus ebola e H1N1. Mesmo com a experiência, Dennys Spender, diretor de operações, afirma que o novo coronavírus foi um desafio. “Era algo desconhecido, e somente depois começou a surgir literatura detalhando o comportamento que o vírus tinha nos ambientes, quais produtos poderiam ser usados e a magnitude que ele tinha para se disseminar.” A Ambipar é uma das maiores empresas do setor no Brasil, com mais de 10 mil clientes em todo o mundo. Thiago Silva, CFO e diretor de relações com investidores, estima que o ano feche com lucro 7% maior do que o ano passado. “A empresa sempre mostrou resiliência nos negócios, e conseguimos crescer tanto em momentos de crise quanto de economia forte. Com a Covid-19 não foi diferente. Temos um modelo de negócio forte, com contratos de longo prazo e que trazem segurança”, afirma.
Fonte: Jovempan